As vésperas de
completar 40 anos, se tudo der certo, tenho mais quarenta pela
frente. Digo se tudo der certo, porque a hipertensão estabilizada
entre 14 por 10 é sempre um risco proeminente.
Como disse Oscar
Niemeyer no documentário “A vida é um sopro”, dá pra lembrar
de tudo o que se passou nos meus últimos 40 anos. Então, o que dará
para fazer nos próximos 40?
Talvez eu devesse
controlar o meu colesterol ruim altíssimo e fazer largas caminhadas
ao amanhecer, ao sabor do vento matinal, entre os manacás e sons
cantantes de jacus e cacarecos que sobrevoam no entorno do meu solar
modesto e bucólico.
Talvez devesse escrever
um livro, já que dizem que para um homem ser completo ele deve
plantar uma árvore (isto eu já fiz bastante), ter um filho (isto eu
também já fiz, porém, não tão bastante), e me falta, apenas
escrever um livro. Mas deixarei este item para quando eu fizer meus
79 anos de idade, para decretar o fim com a tríade perfeita antes do
aconchego da caixa prego.
E o que dará para
fazer nos próximos 40 anos?
Talvez eu devesse
cuidar da gastrite que ataca sempre nas minhas investidas noturnas na
cozinha, talvez devesse evitar de ficar ao computar por mais de 10
horas diárias. Talvez devesse aderir à alguma fé que me fizesse
acreditar que “eu irei desta para melhor”, mas acho isso pouco
provável, na verdade não acredito em nada que se diga “pós”,
pós morte, pós moderno, pós pois....
Devo dizer que é
chegada a hora de descer a ladeira mais vagarosamente, de ouvir mais
e falar menos, até porque temos duas orelhas e com a idade ela é a
única coisa que continua crescendo, coisa de uma natureza sábia que
faz isso para compensar outras que vão sucumbindo e produzindo
apenas saudosas imagens da paudurecência nos casebres coloridos de
neon e outras pequenas aventuras joviais.
40 anos se passaram a
passos largos, movidos de atenolols, moduretiques e benicares da
vida, todos de baixíssima dosagem, criada pelo melhor amigo do homem
– o médico. Graças a esses amigos do peito e dos rins pude
extrapolar nas madrugadas de bebericagem, nas rodas de samba do
Ódoborogodó, nas vitrolas de ficha do Damião ou no churrasco no
Jardim São Luiz.
40 anos se passaram e
lá se vão juntos as Flavelices, as Marlucias, as Marissaras...e as
lembranças do desconhecido colégio chamado “Antonio Manoel Alves
de Lima”. Com esse nome no meu curriculum de graduação percebe-se
que a concordância, o plural e outras complexidades da língua de
Camões sofre exageradamente.
Aos 40, chego ao meio
da minha caminhada – espero – e agora vou aprender a tocar
trompete para desfilar nos blocos de carnaval até chegar o dia em
que escreverei um livro.
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