Assim como a
“Febre do Rato”, de Claudio Assis, “Verônica” nos revela um Recife cheio de
contrastes, belezas, misérias, alegrias, tristezas e estampa o rosto do
nordestino brasileiro incorporado à globalização sem fronteiras e sufocante.
Verônica é
recém-formada em Medicina e seu primeiro emprego é num hospital da capital
pernambucana. Através das consultas aos pacientes, Verônica vai diagnosticando
e ao mesmo tempo se vendo na pele do doente, como se ela fosse a enferma. E ela
é. Porém, não há remédio para a sua insanidade. Ela sofre de liberdade. A
novata doutora quer liberdade de escolha, de sexo, de amizade, de cidade.
Verônica quer viver feliz, mas ela é tomada por doenças sociais patológicas.
Nesse mundo violento e obstinado pelo consumo e dinheiro, essa liberdade
perseguida por ela é uma afronta.
O filme se
desenrola através da relação afetiva com o pai doente, com as amigas fúteis do
dia a dia e a relação sexual/carnal com Gustavo (João Miguel).
“Era uma
vez...” tem sua história narrada através de um gravador que Verônica tem como
fiel confidente desde os tempos de universidade.
Marcelo
Gomes constrói, destrói e reconstrói Verônica que cresce no decorrer da trama
através da interpretação belíssima de Hermíla Guedes (O Céu de Suely). E você
vê, sente e entende as agruras daquele povo – do povo brasileiro.
É bem
diferente dos filmes de altas cifras, das produções que levam mais de 1 milhão
de espectadores ao cinema nacional e que são alardeadas pela Rio Filmes como
tendência de cinema brasileiro forte e de mercado, que até pode ser, porém, é
completamente fugaz.
Se a
afirmação de alguns dirigentes do audiovisual é ter um cinema de A a Z, prefiro
o Z que escancara a cara e a cultura do povo brasileiro do que o cinema A que
concentra mais de 80% dos valores em editais, cruza a Vieira Souto ou “Copa”
com o custeamento caríssimo e que está atrás apenas de números de espectadores
e reais e de, se possível, um prêmio do cinema norte-americano.
“Era uma vez
eu, Verônica” traz o cinema pernambucano para o mundo, um mundo maravilhoso e
de contrastes com a cara do Brasil.
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