5.6.06

Sonho de gato

Há muito tempo Vera e Lúcio vinham se estranhando. Ele era aquele marido que deixava a cueca molhada no banheiro. No domingo não tirava o pé do sofá, vendo jogos de futebol. Até Marília contra Bonsucesso era clássico para ele.
Vera e Lúcio não pensavam em se separar. Os 39 anos juntos, três filhos criados e 5 netos os acovardavam para recomeçar a vida.
Vera, para acabar com a solidão, e não se preocupar com os resmungos de Lúcio, comprou um gato.
O gato, chamado Astuto, passou a dar vida a casa.
Até Lúcio se rendeu as artimanhas do Astuto, comprando comida, terra, bichinhos... Astuto foi entrando na vida dos dois da mesma forma que a mesmice tivera entrado há muito tempo atrás.
Nos últimos dias, eles repararam que o gato quando dormia tinha pesadelos e acordava assustado. O bichano passou a freqüentar a cama do casal.
Lúcio, quando deitava, desfalecia. Mas Vera não dormia direito, por que muitas vezes o gato acordava assustado e não dormia mais, e ficava miando a madrugada inteira. Vera se irritava com a facilidade com que Lúcio dormia, sem se preocupar com o Astuto.
Foi numa madrugada dessas que Astuto acordou, mais uma vez assustado. Como se estivesse caindo, ele esticou as unhas para se segurar em algo e as cravou na jugular de Lúcio. Só deu pra escutar o grito de Vera.
O gato foi sacrificado. No enterro de Lúcio, a quem diga que entre os choramingos de Vera, também se via um leve sorriso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aí, cumpadre. não tá nem disfarçando o medo do Gibi, hein? abraço. FH