23.7.06

Julio César, o Grande.

Todos falam do Imperador de Roma. Mas, Julio César, o Grande, eu o conheci pessoalmente, na 11ª DP. Quando fui trabalhar por lá, ele já estava.
Nossa amizade foi imediata. Como eu, ele era apreciador de um bom futebol e do chope. Conhecíamos todos os bares em que se tomava ‘um na pressão’. Amigo Leal, Filial, Pirajá, Bar do Léo... Assim por diante. Tudo era motivo pra encher a cara. Se o Coringão ganhava, muito chope pra comemorar. Se o timão perdesse, muito chope pra esquecer.
Mas ficamos amigos quando, numa feijoada do Zé Quebrado, ele me disse que nós tínhamos que prender uma corriola de policiais corruptos que se armavam pra defender bandidos da região. Confesso que fiquei surpreso. Achava que entre nós não havia bandidos, mas, mais surpreso fiquei com a sua fidelidade à Corporação. Ele não admitia, em hipótese nenhuma que um policial roubasse dinheiro de qualquer coisa. Mas matar e prender, bem, isso era do ofício.
O fato é que Julio estava certo. Prendemos todos. Todos foram desmascarados. Alguns foram expulsos da Corporação, outros ganharam uma chance e foram mandados para outras cidades, como forma de reeducá-los.
Mas nossa amizade, que durava uns 10 anos, cairia por terra quando Julio foi promovido. Confesso que fiquei chateado. Sabia que se ele ficasse ali, eu e ele iríamos comandar o distrito com sagacidade. Até cheguei a dizer que ele era ganancioso pra algumas pessoas. Uma besteira. Julio César era um grande amigo, e por sua inteligência a promoção era inevitável.
Ficamos anos sem nos falarmos. Nem eu ligava pra ele, nem ele pra mim. A desculpa era sempre a mesma — Muito trabalho.
...

Era sexta-feira quando eu levei Diana para o meu apartamento. Uma garota sensacional. Claro que ninguém sabia do nosso caso. Ela era casada, podia dar a maior merda se alguém suspeitasse!
No banheiro, Diana escorregou e bateu a nuca no vaso sanitário. Foi morte instantânea.
Eu me desesperei. Tava fudido. Não sabia o que fazer. Pensei no jornal com manchetes: “Amante de policial é encontrada morta no banheiro”. E a minha foto de otário em todas as capas. Tentei falar com o tenente Alcides, mas ele ia me fuder. Pensei em ligar pro Julio. Mas ficava recuado, pois o cara ainda podia estar magoado com as besteiras que eu falei dele por conta da promoção.
Não tive outra escolha:
—Julio. Tô fudido, aconteceu a maior merda...
Ele ouvia pacientemente.
Horas depois Julio chegou. Enrolamos Diana num tapete e a colocamos na caçamba da sua Pick-up.
Fomos até a Serra da Cantareira. Ele parou o carro e acendeu um cigarro e disse:
—Clemente, o serviço é seu. Na caçamba tem uma vanga e uma pá. Acelera aí cumpade. São três da matina.
Terminei 8 da manhã. Julio me esperava no carro. Como se nada tivesse acontecido, Julio me perguntou:
— Vai trampar hoje ou tá de bobeira? Vamu tomar uma no Léo, já tá aberto.
Esse era Julio César, o grande amigo das horas mais difíceis.

Ah! Sobre a Diana acharam o corpo dias depois. O marido confessou o crime. Não sei por quê. Disse que a matou porque sabia que ela tinha um amante.

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