Por ALBERTO PEREIRA JR. - Folha de S.Paulo
A pecha de guru dos roteiristas não incomoda Robert McKee, 71.Autor de "Story" (1997), considerada a bíblia do roteiro, esse americano de Detroit, consultor de grandes estúdios, dedica-se há 30 anos a ensinar como contar boas histórias. "Na TV, no cinema e mesmo na literatura", elenca, por telefone, do Rio.
Em sua segunda passagem pelo Brasil --a primeira foi em 2010--, ministrou aulas no Programa Globosat de Desenvolvimento de Roteiristas, que terminou anteontem.
Divulgação | ||
O roteirista e consultor Robert McKee |
Uma segunda edição do curso já está confirmada. Será de 12 a 17 de março, com a presença de Marta Kauffman, criadora de "Friends", e Anthony Zuiker, produtor-executivo da franquia "C.S.I.".
"[Essa lei] é ótima, uma maravilha", avalia o mentor de nomes como Peter Jackson ("O Hobbit"). "O governo está forçando escritores e produtores nacionais a serem sérios e a olharem para seus próprios corações e relacionamentos. O Brasil é enorme: tem 200 milhões de pessoas e muitas subculturas."
INVASÃO
McKee, cujos alunos já foram reconhecidos com 49 Oscar e 170 Emmy, entre outros prêmios, afirma se preocupar com a invasão da cultura hollywoodiana não só no cinema mas também na televisão mundial.
"A TV americana está em todos os lugares, e isso não é uma coisa boa. Nós precisamos de ótimos contadores de histórias internacionais para humanizar as sociedades em todo o planeta. Se uma sociedade tem o domínio sobre isso, encolhe e empobrece outras culturas", observa.
Para ele, a produção audiovisual brasileira tem avançado. "Assisti, recentemente, à novela 'Avenida Brasil' [da Globo]. Achei encantadora, um material ótimo. Espero que leve a telenovela para outro patamar."
Segundo o escritor, a TV nacional começou a olhar para as classes mais pobres, num movimento já realizado por filmes como "Cidade de Deus" e "Central do Brasil". "Finalmente perceberam que a predominância de personagens burgueses ficou chata."
Mas o que falta para o cinema e os programas de televisão do Brasil se firmarem no exterior?
"Diretores que escrevam roteiros originais. Esse não é um problema só do Brasil. Quando se faz uma adaptação de um romance que originalmente se passa na mente do personagem, e tudo o que se tem é o rosto do ator como expressão do que era a grande literatura, o filme se torna vazio", diz ele.
Além de palestras e consultorias, Robert McKee tem contrato para mais cinco livros. Hoje, trabalha num tomo sobre personagens --balanceando os conceitos de "Story"-- e noutro sobre ação. "Escreverei também sobre histórias de amor, comédias e, se ainda estiver vivo, sobre filmes de horror."
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