30.1.13

Guru americano versus Cinema EUA

Guru americano do roteiro critica hegemonia do audiovisual dos EUA
 
Por ALBERTO PEREIRA JR. - Folha de S.Paulo
A pecha de guru dos roteiristas não incomoda Robert McKee, 71.
Autor de "Story" (1997), considerada a bíblia do roteiro, esse americano de Detroit, consultor de grandes estúdios, dedica-se há 30 anos a ensinar como contar boas histórias. "Na TV, no cinema e mesmo na literatura", elenca, por telefone, do Rio.
Em sua segunda passagem pelo Brasil --a primeira foi em 2010--, ministrou aulas no Programa Globosat de Desenvolvimento de Roteiristas, que terminou anteontem.
Divulgação
O roteirista e consultor Robert McKee
O roteirista e consultor Robert McKee
O ciclo foi motivado pela lei nº 12.485/2011, que regulamenta o setor da TV por assinatura e, entre outras medidas, fixa cotas de programação nacional (parte dela de produção independente) nos canais pagos.
Uma segunda edição do curso já está confirmada. Será de 12 a 17 de março, com a presença de Marta Kauffman, criadora de "Friends", e Anthony Zuiker, produtor-executivo da franquia "C.S.I.".
"[Essa lei] é ótima, uma maravilha", avalia o mentor de nomes como Peter Jackson ("O Hobbit"). "O governo está forçando escritores e produtores nacionais a serem sérios e a olharem para seus próprios corações e relacionamentos. O Brasil é enorme: tem 200 milhões de pessoas e muitas subculturas."
INVASÃO
McKee, cujos alunos já foram reconhecidos com 49 Oscar e 170 Emmy, entre outros prêmios, afirma se preocupar com a invasão da cultura hollywoodiana não só no cinema mas também na televisão mundial.
"A TV americana está em todos os lugares, e isso não é uma coisa boa. Nós precisamos de ótimos contadores de histórias internacionais para humanizar as sociedades em todo o planeta. Se uma sociedade tem o domínio sobre isso, encolhe e empobrece outras culturas", observa.
Para ele, a produção audiovisual brasileira tem avançado. "Assisti, recentemente, à novela 'Avenida Brasil' [da Globo]. Achei encantadora, um material ótimo. Espero que leve a telenovela para outro patamar."
Segundo o escritor, a TV nacional começou a olhar para as classes mais pobres, num movimento já realizado por filmes como "Cidade de Deus" e "Central do Brasil". "Finalmente perceberam que a predominância de personagens burgueses ficou chata."
Mas o que falta para o cinema e os programas de televisão do Brasil se firmarem no exterior?
"Diretores que escrevam roteiros originais. Esse não é um problema só do Brasil. Quando se faz uma adaptação de um romance que originalmente se passa na mente do personagem, e tudo o que se tem é o rosto do ator como expressão do que era a grande literatura, o filme se torna vazio", diz ele.
Além de palestras e consultorias, Robert McKee tem contrato para mais cinco livros. Hoje, trabalha num tomo sobre personagens --balanceando os conceitos de "Story"-- e noutro sobre ação. "Escreverei também sobre histórias de amor, comédias e, se ainda estiver vivo, sobre filmes de horror."

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