6.11.06

Depois dos “trinta”

Sempre que eu chegava ao bar, ouvia Walter reclamar de doença. Ele estava com uns 30 e poucos anos. Eu não tinha muito contato com ele. Mas era muito engraçada a quantidade de números de médicos em sua agenda telefônica.
—Hoje eu não posso tomar nada, minha pressão ta lá encima. Dizia ele.
Às vezes a culpa era do triglicérios, às vezes era gastrite. Sempre tinha uma nova doença pros amigos caírem na alma do coitado.
Felipão, este sim, eu conhecia bem; era um amigo de todas as horas, pra ele não tinha tempo ruim, sempre disposto a “mais uminha”. Felipão tirava uma onda com o amigo hipocondríaco.
— O Bicho, toma uma só pô! Não vais te fazer mal! Cê é novo, pô! E enchia o copo de Walter.

Passei um tempo fora, estudando no interior. Ao regressar fiz meus exames de rotina. Pra minha surpresa, meu colesterol estava alto, inclusive o triglicérios. Achei engraçado e pensei em encontrar o pessoal pra me solidarizar com Walter, porque, agora, eu fazia parte do time dos lesionados.
Ao chegar ao bar cumprimentei a rapaziada e perguntei pro Felipão.
— E aquele seu amigo doente, cadê ele. Ele vem. Tô com uns exames de colesterol e triglicérios altíssimos, vim me solidarizar com ele.
Felipão bebe um gole e responde:
— Xiiii, bicho, aquele cara morreu, já fazem uns 3 meses, ele tava doente... Mas senta aí bicho, toma uma só... E encheu o meu copo.

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