Se o Senado aprovar mais uma lei proibitiva em torno do consumo de àlcool, significará que tomar uma simples taça de vinho passará a ser crime igual a um homicídio, um latrocínio, um estupro, tráfico de armas, desvios de verbas públicas, sonegação de imposto e outras atrocidades de um Brasil contemporâneo.
Mas isso só pode acontecer mesmo no Brasil. Um país pra lá de cinematrográfico, em que um helicóptero joga uma escada no presídio de Ilha Grande e resgata um preso de alta periculosidade. Ou um cidadão preso por guardar fartos pacotes de dinheiro na cueca. Ou 2,5 milhões de reais enterrados num quintal de uma casa.
Fico pensando como seria em Paris, quando um casal que tomou um garrafa de vinho na ponte Neuf, sobre o rio Sena, decide ir para o apartamento continuar os afagos, porém um policial diz: — est arrêté, la délinquance!
Penso nos casais na Recoleta, em Buenos Aires, que depois de duas taças de malbec seguem para Puerto Madero e no primeiro cruzamento entre Corrientes e a San Martin um policial da a ordem de prisão: — es detenido bandido!
Aqui no Brasil, fico preocupado, bairros inteiros serão cenas de filmes de terror, com desertas ruas, noites vazias. Baixo Leblon, Rio Vermelho, Vila Madalena....
E o romance?
Este não estará no ar.
As Bacantes não gritarão: — Evoé, Baco! Nem a piscadela ganhará um sorriso amarelo.
Claro que o álcool não tem relação com as paixões, mas são aperitivos importantes para aquele fogo do encanto ou do sexo aflorar nos amantes boêmios. Porque depois de tanto flerte e "vinho a beça na cabeça..." a corrida aos refúgios coloridos da Raposo Tavares e Ricardo Jafet era o destino certo, pelo menos para os paulistanos.
Bem, se o senado aprovar mais uma lei proibitiva...
"Nunca mais cinema, nunca mais romance, nunca mais drink no Dancing, nunca mais Xis, Nunca uma espelunca, uma rosa nunca, nunca mais feliz". Chico Buarque
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