14.2.06

Sem rumo

— Aí mano...(páh!)
E em alta velocidade uma moto sobe a rua 8.
Aos olhos das pessoas, um jovem agoniza entre a rua e a calçada, colocando sangue pela boca. Escuta-se sua respiração.
—Meu Deus, gente! Chama uma ambulância, gente...
As pessoas não sabem exatamente o que fazer, um senhor chega mais perto e põe a mão no cabelo do menino para ver o rosto. Ninguém o conhece.
De repente uma moto desce, as pessoas saem correndo, se escondem nas garagens..., mas é só mais uma moto que passa parecendo que nem notou a cena.

“Só... essa mina é show!”. Dizia Rodriguinho para Jão e Carlim, no Beco da Misericórdia.
“Passa o beque mano, tá parecendo pai de santo” e todos caem na risada.
“Aí mano, to á fim de apagar um playboy forgado”, fala Jão passando a bituca de maconha.
“Quem é?”
“É um cara que fica desfilando de TDR, pra baixo e pra cima, pagando de gatinho pra comê umas mina”
“Porra, mano, só por isso, tá foda, se for por isso nóis ia ter que matá uma par de cara...” risadas novamente.
“Aliás que porra é essa de pagando de gatinho...” mais risos.
“Ih mano, tá me tirando? O playboy é forgado e eu vou fazê a dele e ainda fico com a motinha do cara”.

Mais risos.
“Então cê tá querendo é a moto do cara, mano? Não precisa matá”.
“Ele mexeu com a minha mina, porra! Ela me contou tudinho, manu, e vai ser só um”.
Rodriguinho pensa:

“Porra essa mina é mó vagabunda, dá mole pra todo mundo, até pra mim. Se o Jão não fosse meu truta eu já tinha comido. Na festa de sábado, me mandou até um recado. Eu nem fui; Tô fora! O Jão é louco pro ela, se ele sabe eu to fudido...”

Em algum lugar do passado aquelas ruas já foram de terra, quando chovia pequenas erosões tomavam conta do lugar. Algumas crianças se divertiam nas goteiras das casas, e as velas sempre num lugar acessível para qualquer eventualidade, que alías, falta de luz era constante. Quando o tempo secava, molecada se dividia em dois grupos. Com pedaços de pedra nasciam “golzinhos” e a bola de capotão fazia a festa delas. As meninas sempre brincavam de corda ou de amarelinha...
Hoje, tudo mudado: quase todas as ruas estão asfaltadas, quase todo mundo tem carro ou moto, tv a cabo e computador. A alegria inocente daquelas crianças mudou para o medo, o ódio, a individualidade e o incontrolável.

—E aí Rodriguinho? - cumprimenta Jão. Na garupa da moto do Cigano.
—E aí Jão? Fala Cigano! Que cêis mandam - responde Rodriguinho.
—Oh, mano, que estória é essa que você deu encima da minha mina na festa, sábado...
—Tá louco Jão? Eu dei encima da mina? Nada haver, mano..
—Orra mano, pensei que se cê fosse meu truta, ma, pelo jeito, cê só tava na trairage...
—Oh mano, nem gosto dessas idéia, manu. Se liga, Jão...
—Se liga o que manu. Se liga o quê? E rapidamente Jão pega uma arma e...
—Aí, mano...(páh)!

O menino já não respira mais.

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