22.2.06

Vida sem graça

Podemos dizer que Rubens nasceu virado pra lua. Tudo o que quis na vida conseguiu.
Ainda bebê, Binho, quando ia à farmácia, no colo da mãe, chorava e logo ganhava uma chupeta nova. No mercado, nem se fala. O que o menino Rubinho queria, seu pai comprava. Estudou na melhor escola da região. Quando chegou à Admissão (Hoje não existe mais. Era um ano de estudo que ficava entre o primeiro e o segundo grau. Que também não existe mais. Hoje é ensino básico e fundamental. Logo, a Admissão estaria entre estes dois) conheceu Marcinha, menina linda que todos queriam namorar.
Desde cedo se preocupava com a lei, formou-se em Direito como o Doutor Lauro, seu pai.
Casou-se com Marcinha e decidiu ter quatro filhos. Dois casais. Fato consumado em 8 anos.
Dr. Rubens se tornou um dos melhores advogados de São Paulo, depois virou promotor. Uma vida estabilizada e bem sucedida.
Já com 70 anos, decidiu que queria ver a morte. Poder falar com ela. Isso sempre era motivo de graça nas macarronadas de domingo, com seus filhos, Marcinha e seus dois netos: Tiago e Raquel – os maiores xodós.
Bem cedo, num domingo de primavera, todos decidiram ir ao zoológico. Só o velho Rubão que não foi. Disse que queria ficar um pouco só, ler o jornal, ver televisão, mas que não se atrasassem para a tradicional macarronada de Dona Nega, a cozinheira da casa.
Quando foi por volta da uma da tarde, Raquel e Tiago entram no quarto pra contar as histórias do zoológico, mas dão de cara com o vovô Ru no chão. Um tiro no peito, segurando uma arma com silenciador. Tinha se suicidado.
A família ficou transtornada, não entenderam nada.
Ricardo, o filho mais velho, consola a mãe:
- Pelo menos morreu rápido.
Mas, não foi bem assim. Segundo os médicos, Rubens demorou cerca de 10 a 15 minutos para morrer. E o mais engraçado, ao lado do corpo, um espelho parecia retratar tudo.

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