1.3.06

O baile de máscaras

Sempre tive pena da minha mãe. Ficou a vida inteira pilotando o fogão e cuidando dos filhos.
Meu pai, em compensação, era um fanfarrão. Vivia na noite, cercado de amantes, jogos e bebidas.
Quando era carnaval, ele pintava a cara e se vestia de Arlequim. Só voltava de manhã.
Minha mãe nunca pulou carnaval. Tinha que cuidar da casa.
Cresci indignado com essa diferença e pensava: “Quando eu crescer, eu vou me fantasiar, entrar no baile e matar a amante que estiver com o meu pai”. “Vou vingar os anos em que a minha mãezinha ficou em casa para ele se divertir”.
Passaram anos e continuei com esse pensamento. Então, já adulto, esperei chegar o carnaval.
...
No baile muita gente. Eu vestido de crioulo doido, demorei horas para avistar meu pai de Arlequim. Ao lado, uma bruxa de nariz pontudo o agarrava.
Não pensei duas vezes, dei seis tiros na bruxa e sai correndo. Ninguém percebeu a confusão.
Cheguei em casa. Meu irmão na sala. Perguntei: Cadê a Mãe? Sorridente, ele me respondeu: Você não vai acreditar. O pai chegou com um vestido de bruxa pra mãe e a chamou pra pular carnaval.

(Baseado numa estória que a minha mãe contou quando eu tinha 6 anos de idade)

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